Preciso te dizer que o meu desejo perdeu o controle, como um lobo, de te possuir inteira, adorar teu corpo, abraçar-te, inventar uma madrugada só nossa. Algo como um medo que faz bem domina minha alma, interrompe minha reflexão sobre os prejuízos da tua presença, afoga minhas dúvidas.
Quero estar do teu lado todo instante, contemplar teus olhos de água, afagar tua pele como um mendigo que devora o alimento e a doação. Meu coração, apesar de ser apenas um músculo por onde passa todo o meu sangue, seqüestra deste o seu furor, sua agonia nômade, seus impulsos. Pulsando, te aguarda como uma canção teimosa!
Preciso te confessar que todas as possibilidades de viver longe dos teus olhos eu as afoguei, rasguei suas vestes frias, queimei suas premissas, venci. Preciso de ti como o orvalho necessita do sol para erguer-se, teu cheiro grudou em mim uma tarde de maio, quando nasceste e criaste a possibilidade de dormir nos meus braços.
Tua ausência aflige-me como um escárnio, teu beijo fez-se obsessão, tua voz, como bálsamo, ocupou o meu tempo! Preciso de ti, não há volta, não suportaria tua ausência, tornar-me-ia frio como a morte, minha paixão pela vida fugiria dos meus dedos, preciso de ti.
Se me deixares, minha fé na liberdade ocupará o mundo dos mortos. Nada que me disseres deterá a avalanche que se anuncia no meu peito, nada que fizeres aprisionará meus sentimentos.
Quero dormir em teus braços, sentir tua respiração, tua ternura me fará homem, livre, santo, em teu altar confessarei meus pecados e minhas ausências.
Quero dormir em teus braços, sentir tua respiração, tua ternura me fará homem, livre, santo, em teu altar confessarei meus pecados e minhas ausências.
Preciso, enfim, confessar os meus medos, juntos não passam de um, perder-te, ser expropriado de tuas veias, não ganhar o teu tempo e a tua afeição. Não posso falar-te mais, apenas que me deixes do teu lado, conforta-me com a tua presença, tua alma e tuas mãos.
Por fim, como uma carta, na ausência que maltrata, preciso dizer-te: minha paixão é como uma chuva de agosto, teu corpo: a terra da repartição, teu silêncio: um pedido, minha inocência: uma confissão!