É tempo de perceber a essência: Desabafo de Moisés Diniz


Hoje eu acordei cedo para coordenar duas ações principais do dia: concluir a composição da chapa à Mesa Diretora da Assembléia Legislativa e mediar o diálogo entre PMs Voluntários e o Governo.

Logo cedo fui surpreendido pelo acampamento dos PMs Voluntários em frente à Aleac, o que provocou a suspensão do diálogo. É que não havia necessidade de pressão, já que a negociação estava aberta, inclusive com reunião agendada.

Mas, como se trata de sobrevivência, de luta pelo emprego, de sustento da família, de pessoas que cuidavam da nossa segurança, nós estamos trabalhando com o máximo de boa vontade e paciência. Acredito que amanhã chegaremos a um bom termo.

No meio dessas duas demandas principais, inúmeros problemas que chegam dos bairros, dos municípios, da sociedade que vive um momento de transição e de todo tipo de dor.

Dezenas de telefonemas que não pude retornar, porque o tempo não permitiu, pedidos inconfessáveis, demandas reprimidas, como se fosse possível atender todas as necessidades. E olhe que ainda estamos em recesso parlamentar.

Tem horas que dá vontade de desistir, voltar para a minha querida Tarauacá e, nos finais de tarde, poder jogar o meu futebol, visitar os amigos e não permitir que, cada vez mais, eu me distancie das pessoas que sempre me fizeram bem.

A luta política é inglória, você se esforça para ser honesto e não convence, luta pelo coletivo, mas ganha a imagem de que vive pelo individual, enxuga gelo todo dia, porque na manhã seguinte os problemas só mudam de nome, de endereço e de RG.

Hoje eu tratei de problemas tão variados que se fosse médico, não seria especialista, seria um clínico geral. E por ser assim, você fica na superficialidade, não tem tempo de dialogar melhor, de ouvir com atenção, de perceber a essência e, muitas vezes, comete injustiças, cuidando de quem não precisava de atenção.

Enquanto isso, os mais pobres ficam sem a minha visita, os mais distantes sem a minha presença e o tempo vai passando e a gente envelhecendo. Por isso que eu acho que precisamos despertar para novos horizontes, novas formas de fazer política e encontrar um novo jeito de cuidar das pessoas.

É preciso olhar para as nossas pegadas na areia e descobrir se estamos andando sozinhos, achando que estamos andando juntos, só porque conversamos ao telefone, no msn ou pelos jornais.

É preciso a gente encontrar um jeito de não andar só nesse mundo que se acha moderno e interativo, com internet e celular, mas assiste ao aumento de sofrimentos e doenças que a humanidade não conhecia nos primórdios.

O homem moderno está cada vez mais sozinho, mais angustiado, mais cercado pelos seus semelhantes que se tornaram lobos, apesar de usarem perfume francês.

Hoje foi um dia horrível, mas eu aprendi com ele que a gente precisa ter fé no futuro e olhar além do horizonte. Perceber a luz e a sombra em eterna disputa entre os nossos dedos.

E amar mais, mesmo que isso nos custe caro.


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