A ORIGEM DO NOVENÁRIO DE SÃO FRANCISCO EM TARAUACÁ (Isac Melo)

As grandes devoções populares são, geralmente, frutos de uma experiência pessoal de fé pelo qual alguém passou. Por volta dos meados da década de 1920, viajando pelos rios amazônicos, um homem estando à beira de um naufrágio, provocado pelos perigosos remansos que se formam nos rios, invoca o auxílio divino, se valendo de São Francisco de Assis (ou das Chagas) para livrá-lo de tal desgraça. Ao barco nada acontece e passa ileso por tal apuro. Esse homem chamava-se Raimundo Eustáquio de Moura, que, sendo escriturário, havia se estabelecido no vale do Tarauacá, onde trabalhava numa firma realizando viagens pelos rios. A partir dessa promessa, tem-se início o tradicional Novenário de São Francisco, que perdura até hoje, na cidade de Tarauacá.

Raimundo Eustáquio de Moura nascera em 06 Outubro de 1879 na cidade de Cametá, no Pará, e falecera em Tarauacá no dia 28 de Julho de 1959. Fora casado com a senhora Liberalina Leite Moura, com quem teve três filhas: Celestina, João e Inês. No início, as nove noites de novena eram realizadas em sua própria casa ao redor de um quadro do santo, provavelmente com seus familiares, vizinhos e amigos mais próximos. Com o passar do tempo, a devoção foi se difundindo e mais e mais pessoas acorriam ao novenário, para pedir ou agradecer bençãos alcançadas.
Em cima: uma das primeiras capelas construída no local.
Embaixo: Igreja atual de São Francisco, no bairro de Copacabana.
A casa já se tornara pequena para acolher tantos devotos. Era necessário uma igreja. Observe que o novenário havia se iniciado, de uma forma mais solene e oficial, no dia 28 de Setembro de 1928, por iniciativa de dona Liberalina Moura. Sendo que cinco anos depois, em 28 de Setembro de 1933, por iniciativa de Raimundo Eustáquio, era construída a Capela de São Francisco das Chagas. A capela despontava no horizonte sob um bonito morro que passou a ser chamado arraial de São Francisco. Anos mais tarde, 1940, com aprovação do Bispo Dom Henrique Ritter, lança-se a pedra fundamental para a construção de uma nova igreja, já que a capela atual tornara-se novamente pequena para atender o grande número de devotos do santo de Assis, ali invocado como Das Chagas, já que a devoção veio com os nordestinos, principalmente cearenses, onde há um enorme Santuário dedicado a São Francisco das Chagas, na cidade de Canindé, que até hoje continua a atrair milhares e milhares de devotos.
 
Túmulo de Raimundo Eustáquio de Moura.
Em destaque: lápide

A história é mestra, ensina Cícero. Felizes, então, os que aprendem com ela. Fazer memória desses fatos é um preito de gratidão a todos aqueles que nos precederem, impulsionaram e nos legaram esse maravilhoso testemunho de fé. Além de nos possibilitar viver ainda melhor e de modo mais consciente a nossa própria fé. Deus se utiliza, em todos os tempos e de modos variados, de mulheres e homens para comunicar sua Vontade. De modo que também se utilizou para tal missão do honroso e virtuoso “iniciador” do novenário, Raimundo Eustáquio de Moura, que neste ano se completam 131 anos de seu nascimento e 51 de sua morte. Um homem tocado por Deus, cheio de fé e zelo e que legou ao povo católico de Tarauacá uma das maiores demonstrações de fé do povo acreano.

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Obs.: as informações históricas, aqui usadas, têm como base uma pequena biografia sobre Raimundo Eustáquio de Moura feita por sua filha Celestina Mourão, cedido gentilmente pelo Palazzo, bem como a foto antiga da Capela de São Francisco; E também de uma história de literatura de cordel da poetisa Núbia Wanderley (A Origem do Novenário de São Francisco) e do livreto de Anastácio Rodrigues de Farias (Diversos Dados Sobre o Município de Seabra 1905-1943).

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