Na Beira do Murú foi meu primeiro choro, no cantar das cigarras e nambus, nas mãos calejadas da parteira, meio à explosão da borracha, meio às risadas e à dor, meio à vida verde da floresta e à alegria do tiro de uma velha besta, que anunciava quem chegou.
Aos cinco anos conheci a cidade, chegando de batelão, jabuti embaixo da proa, chiqueiro de porco, pélas de borrachas, capoeiras de galinhas no toldo, cachos de bananas maduras pendurados. No cair da noite, o rio refletia o brilho da cidade iluminada, ronco de carros, vida urbanizada, fumaça com cheiro de café, novenário de São Francisco, os seringais se esvaziavam em nome da fé.
Conheci a escola, as praças, os campinhos improvisados nos quintais. Aprendi a ter saudade de mãe, pai, irmãos e a compartir com os primos as casas de tios e avós. Soube o que é ser menino buchudo, de vender refresco, quibe, engraxar sapato, crescer na cidade, cheio de sonhos, dificuldades, sem perder o caráter, acreditando na justiça e no amor.
Desde cedo aprendi em minha cidade a admirar a verdade das crianças, a perseverança do agricultor, a sensibilidade de nossos comerciantes frente às causas sociais, a irreverência e coragem de nossa juventude, a resistência indígena, a persistência de nossos esportistas, a dedicação de nossos educadores. Aprendi a admirar a fé de nosso povo.
Desde cedo aprendi a lutar com meu partido por uma nova cidade, por um lugar compatível com nossa alegria, com a beleza de nossas mulheres, com a magia de nossos rios, com o mistério de nossas florestas e a esperança de nosso povo.
Aos 96 anos, o coração de nossa cidade sangra, está negro, está triste, a maioria de nossos políticos locais nos envergonham. A mentira, os calotes eleitorais, os assaltos aos cofres públicos, a falta de ética. Transformam a política na arte do possível. Vendem ao povo o espírito franciscano e em pouco tempo se transformam em empresários. São décadas de atraso, anos que deixamos de caminhar, pobreza que se expande, crianças que morrem por falta de saúde, famílias sem moradias, pais sem empregos, garotas que se prostituem, jovens que se drogam, exemplos que são assimilados pelo subconsciente de nossa juventude e seguidos como uma doutrina, como uma técnica de chegar ao topo.
Nossa justiça, pra comentar...
Tarauacá, parabéns, que nosso povo comemore, que não perca a alegria, que nossa juventude seja exemplar, que nossas mulheres sigam sendo lindas, que nossas famílias possam ter mais pão, mais casas e saúde, que nossos ”abacaxis” diminuam e nossos ananás sejam maiores e mais doces. Acreditemos que dias melhores virão, com maior cidadania, justiça e, sobretudo políticos mais honestos, que possamos crescer na mesma proporção que o Acre e nossos municípios vizinhos.
Que todo homem e mulher nascido nessa terra possam sempre orgulhar-se de serem Tarauacaenses.
Viva Tarauacá! Viva o povo Tarauacaense! Viva a chegada de novos tempos!!!!!!!
Janilson Lopes Leite
Tarauacaense
Estudante do sexto ano de medicina em Cuba
Militante do PC do B