João Marques da Silva (Pererinha)
Era verão de 1967, quando o ex-seringueiro João Marques da Silva, 76 anos, popularmente conhecido pela alcunha de “Pereirinha”, correu para a beira do rio Tarauacá, para conhecer os revoltosos do seringal Amapá que ameaçaram o poder dos coronéis de barranco do rio Tarauacá.Cansados da espoliação do arrendatário - Ribamar Moura, (apelido de Ribamar / Cão), os seringueiros suspenderam o corte da seringa em protesto ao baixo preço da péla de borracha defumada.A primeira medida dos revoltosos, segundo Pereirinha, foi
suspender a produção de látex nas estradas de seringa e reter as pélas defumadas que estavam estocadas nas colocações do seringal Alagoas.Em seguida, os seringueiros mais exaltados mandaram um recado ao patrão que somente entregariam a produção gomífera mediante o aumento do preço da borracha comercializado nas casas aviadoras nas praças de Manaus e Belém do Pará. “Os mais exaltados ameaçam tocar fogo no barracão, caso o seringalista não concedesse o aumento desejado”, lembrou João Marques da Silva.Apavorado, com o prejuízo acumulado, o seringalista Ribamar Moura embarcou num batelão com destino ao município de Tarauacá. Ao chegar à comunidade do Vale do Envira, procura o delegado de polícia, Moacir Prado, para delatar a ação dos revoltosos.“Depois de escutar o lamento do seringalista, o delegado encaminhou o caso para o cabo da Guarda Territorial – Albérico”, comentou Pereirinha.Ao tomar conhecimento da greve dos seringueiros, o militar percorreu as ruas do município de Tarauacá convocando todos os policiais que estavam de folga naquele dia. Telegrafando em seguida, para a Delegacia de Feijó pedindo mais reforço policial para reprimir os seringueiros do Alagoas. “Ao chegar o reforço do município vizinho, sob o comando do policial civil Carijó, o delegado Moacir Prado expediu o mandato de prisão coletiva”, recordou.Cerco Policial - A expedição militar, segundo Pereirinha, era composta por seis soldados da Guarda Territorial, quatro policias civis, e um cabo. Em seguida, o grupo embarcou ao cair da tarde, com destino ao seringal Alagoas, localizado nas cabeceiras do Rio Tarauacá.Pereirinha relatou ainda, que ao chegar à localidade, depois de dois dias de viagem rio acima, os militares acampam nas proximidades do barracão. Mas antes de escurecer, os soldados se esconderam nas proximidades dos varadouros, para surpreender os seringueiros rebeldes, que ameaçavam atear fogo no barracão.Os raios da lua cheia refletiam sobre a água barrenta do rio Tarauacá, quando uma meia dúzia de seringueiros, surgiu armados de terçados, facas e tochas de fogo, apontaram no horizonte marchavam em fila indiana.Os policiais fortemente armados abriram fogo na direção dos revoltosos que se protegeram na vegetação densa da floresta.Assustados, os revoltosos abandonaram o front da batalha e adentram a mata em busca de proteção. A expedição militar seguiu as pegadas, em busca de capturar os revoltosos. Em menos de cinco horas todos os líderes do levante estavam presos. Sob a acusação de subversão, foram barbaramente torturados para que delatar os outros comparsas do movimento.“Os presos amontoados feitos animais, foram transportados num pequeno batelão com destino ao município de Tarauacá”, recordou o ex – seringueiro João Marques da Silva.Depois de prestarem depoimento ao delegado de polícia, os acusados foram trancafiados na Delegacia de Tarauacá. Mas como não tinham parentes na região, contaram com a caridade alheia, para recomeçarem as suas vidas, depois foram absolvidos dos crimes por subversão.Depois da absolvição do Poder Judiciário, os ex – presidiários passaram a fazer pequenos biscates no porto do rio Tarauacá. “Os seringueiros que ameaçaram o poder dos coronéis de barranco, foram duramente punidos” finalizou Pereirinha, que testemunhou o levante dos seringueiros do Alagoas.