O deputado estadual, Moisés Diniz (PCdoB), é, em vários aspectos, um político diferente. Ele tem uma conversa agradável de quem já leu muito e também passou por experiências interessantes na Amazônia de Deus. Isso lhe dá uma visão ampla e universal das coisas do mundo, inclusive, da política. Moisés, líder do governo na Aleac, começa elogiando a oposição. “ Temos uma oposição qualificada. Os oito deputados costumam freqüentar a tribuna para fazer críticas ao governo. Se nós não reconhecermos isso poderemos estar fazendo uma defesa do governo fora da realidade”, disse ele.
Destaca as atuações de Luiz Calixto (sem partido), Donald Fernandes (PSDB), Antonia Sales (PMDB) e de Idalina Onofre (PPS). Em relação a N. Lima (DEM) acha que o parlamentar tem um discurso rude mas eficiente.
Por conta dos debates no plenário da Casa Parlamentar, Moisés Diniz resolveu reformular o seu blog (http://www.aleac.ac.gov.br/aleac/moisesdiniz.gov.br/aleac/moisesdiniz). “Vou ouvir e anotar. Depois vou aprofundar-me nos temas debatidos para mostrar aquilo que o governo está fazendo em textos qualificados no meu blog. E se houver falhas nas ações governamentais também não pretendo esconder, mas mostrar caminhos para as soluções”, diz. O deputado afirma que subestimar a oposição seria um erro. “O governo do Binho Marques é democrático e sabe como lidar com as críticas que em alguns momentos são até necessárias”, salientou.
Mas além do seu espaço virtual na internet, Moisés Diniz quer trabalhar mais com os deputados da base aliada. “Nós temos que prepará-los para terem conhecimento técnico nas áreas essen-ciais do governo como saúde pública, educação, segurança, e vai por aí”, disse. Para Moisés, ainda são poucos os deputados da base que costumam freqüentar a tribuna para falar de temas específicos com preparo adequado para fazer a defesa do governo. “Temos que nos preparar para um debate mais qualificado. Por isso, procuro dividir a responsabilidade da liderança com os outros 16 parlamentares da base. Faço aquilo que batizei de liderança compartilhada”, sentencia.
A força da inspiração literáriaQuando pergunto para Moisés se ele pretende avançar mais na carreira política subindo o próximo degrau natural que seria uma candidatura a deputado federal, a resposta vem rápida e certeira. “Só saio candidato a federal se for amarrado pelo pescoço porque teria que viajar muito de avião entre Brasília e o Acre e fico apavorado com a idéia. Mas é a realidade que impulsiona a gente em novas direções por isso não dá para afirmar nada”, diz ele.
É claro, que Moisés Diniz, seria o mais cotado para uma candidatura a federal, do PCdoB, caso aconteça de Perpétua Almeida (PCdoB-AC) sair para o Senado e o atual presidente da Aleac, Edvaldo Magalhães (PCdoB) para vice-governador. Tudo isso, estritamente dentro do campo especulativo porque ainda tem muita água para rolar até as definições das eleições de 2010.
Mas o líder na Aleac, já antecipa que a sua vontade é concorrer mais uma vez a deputado estadual e depois do próximo mandato dedicar-se inteiramente à literatura. Moisés, apesar das responsabilidades políticas, dedica três horas diárias do seu tempo para ler e escrever. “Faço isso todas às noites”, diz ele. Tanto que conseguiu terminar de escrever o livro O Santo de Deus, que deverá ser lançado, em maio, pela editora pernambucana, Bagaço. A obra é sobre os assassinatos que ocorreram no Seringal Lavras, no Rio Tauari, próximo a Tarauacá, em novembro de 1998. “As mortes aconteceram dentro das famílias dos moradores. Eles eram membros de uma igreja evangélica pentecostal que começaram a receber supostas comunicações divinas para eliminar pessoas que teriam cometidos pecados, normalmente, ligados a sexualidade. Isso era uma forma, segundo os seguidores da seita, de purificar a comunidade para receber a visita do profeta Elias numa carruagem de fogo vinda dos céus. As vítimas eram torturadas no meio da floresta e mortas a pauladas”, conta Moisés.
Para escrever o relato, uma espécie de reportagem literária, Moisés Diniz ouviu os parentes das vítimas, moradores do seringal e, os próprios assassinos. “Eram pessoas analfabetas dizendo que estavam vendo Deus e que citavam trechos da Bíblia enquanto mandavam matar as pessoas”, relata o autor. Dentro desses rituais de “purificação” foram executadas seis pessoas, entre elas, duas crianças.
O misto de deputado e autor continua a produzir. Têm crônicas, contos, romances, poesias, em elaboração. Escreve vários livros simultaneamente. Quando no futuro retirar-se da vida pública o que não vão faltar são projetos literários para preencher o seu tempo.
A crônica de uma história de vida A própria história de vida de Moisés Diniz tem toques literários bem nítidos. Nascido no Rio Azul, atualmente no município de Mâncio Lima, ele freqüentou o seminário dos Maristas, em Cruzeiro do Sul. Chegou a fazer os votos de pobreza, castidade e obediência para tornar-se irmão Marista por dois anos. Depois resolveu ter uma atuação mais próxima dos homens do que de Deus. Engajou-se nos movimentos sociais. Foi para Tarauacá onde reorganizou os sindicatos da Educação e dos Trabalhadores Rurais. Incentivou os movimentos estudantis e de mulheres. O caminho natural foi a política partidária e a candidatura a deputado estadual. “Eu sonhava em fazer a revolução. Li literatura revolucionária, mas com o tempo a gente acaba se enquadrando numa política mais tradicional”, afirma.
Para justificar a sua opção futura pela literatura como um instrumento para ajudar a sociedade do Estado, Moisés diz: “O Acre está muito bem servido na política. Recentemente o senador Tião Viana (PT-AC) quase conseguiu eleger-se presidente do Senado enfrentando uma entidade política poderosa que é o Sarney (PMDB-AP). Quando o Jorge Viana chegar ao Senado certamente conseguirá grande destaque no cenário político nacional porque tem uma capacidade de articulação notável. Tem ainda a senadora Marina Silva (PT-AC) que tornou-se conhecida no mundo inteiro como ministra de meio-ambiente do Lula. Por isso, posso atuar numa outra área”.
Quando pergunto para o deputado comunista se ele acredita em Deus a resposta transcende um simples sim ou não. Ele explica a questão doutrinária do PCdoB que, no Acre, tem vários filiados com ligações religiosas. “Na época de Karl Marx, a igreja tinha um poder tanto no Céu quanto na Terra. Uma mão secular opressora em relação aos camponeses. Por isso, a frase celebre, ‘a religião é ópio do povo’. Na América Latina, a Igreja teve um papel completamente diferente aproximando-se das causas populares e tendo participação importante nas transformações das sociedades. Vários padres e freiras que defendiam a população foram assassinados pelas elites do poder. Então, nós incorporamos dirigentes religiosos que tenham compromisso com os instrumentos de libertação popular”, afirmou.
Para concluir, Moisés Diniz acrescenta: “A questão de acreditar ou não em Deus fica sem sentido porque o que vale não são as minhas palavras, mas os meus atos. Agora, sem dúvida, que Deus é importante para a humanidade”.
Atualizado em ( 01-Mar-2009 )