AS TRONQUEIRAS DE TARAUACÁ.

(CHAGAS BATISTA)
Estava no computador escrevendo um relato sobre a história do partido comunista do Brasil em Tarauacá, tarefa que me dispus a cumprir nesse momento de exílio temporário em Rio branco, fazendo um tratamento de saúde, um compromisso que, pelo fato da militância política vinha adiando e deixando em segundo plano.

Estava viajando no tempo, lembrando das truculências que enfrentamos dos sonhos embalados para varrer a opressão do nosso mapa. A televisão ligada, Derrepente... O apresentador da TV globo fala uma palavra que interrompeu minha viagem ao passado.

A palavra pronunciada foi Tarauacá. Sem hesitar, vi que o assunto tinha tudo haver comigo. Não existe outro Tarauacá no mundo, era mesmo sobre o Rio das tronqueiras, era uma noticia da nossa cidade.
Em seguida vieram as informações. “o Brasil dos excluídos”, onde se encontram os menores índices de desenvolvimento humano do país. Quando foi aparecendo às imagens, o mercado Domingos Leite foi o cartão postal da cidade.
Comecei sentir arrepios de tristeza e vergonha. O que existe aqui, não é muito diferente da realidade cruel que vive povo Brasileiro em outros estados e regiões, uma herança desumana, alimentada secularmente pelas elites patrimoniais do Brasil, agora, ganhar a competição nacional de da indigência humana, ver nossa cidade sendo noticia dessa natureza, é humilhante, desonroso, não dar para não ficar triste.

Perdi o sono pensando, Lembrei que quando comecei minhas andanças ha mais de duas décadas atrás pelos Rios e igarapés de Tarauacá, ainda não existia o município do Jordão. Recordei-me de quando ainda jovem, sai junto com o seringueiro Zezé, em uma velha ubá, do seringal Boca de Pedra, cabeceiras do Rio Tarauacá, região hoje ocupada pelos índios arredios e vi até a boca do Murú. Foram 12 dias remando no sol e na chuva. Lembrei quando, exatamente 20 anos atrás, subi até o Jordão, junto com DIBRITO, ex- presidente do PT de Tarauacá para organizar a campanha de Lula a presidência de republica enfrentando ameaças dos coronéis de moribundos em fim de festa.

Dessa época até aqui, muita coisa mudou no estado e no país, mas nessa região os ventos não sopraram na mesma proporção. As condições de vida da população do Jordão têm o tronco fincado em Tarauacá. No nosso isolamento e modo despudorado, patrimonialista, fisiológico e corrupto de governar.

Não é a primeira vez que somos manchete nacional da imoralidade. Poucos dias atrás o TSE – tribunal superior eleitoral divulgou dados, nos dando o título de vice-campeão de analfabetismo, baseado no quantitativo de votos nulos na ultima eleição. Tivemos 10% de votos nulos. Perdemos a eleição com uma diferença de 1%.
A reportagem da Rede Globo, mesmo com todas as controvérsias, serviu para dar publicidade nacional, o que todos nós já sabíamos há muito tempo. Com bases nas estatísticas realizadas pelo
IBGE há mais de 20 anos, sustentamos os piores indicadores sociais da pátria.

Analfabetismo excessivo, precárias condições de atenção de saúde, moradia, saneamento, alimentação e baixa expectativa de vida. Serviu também para deixar os taraucaenses envergonhados e os corruptos comemorando. Eles sabem que estomago vazio e ignorância não resiste uma esmola. Assim, vão poder continuar comprando votos, fazendo banquetes e orgias,
assaltando a prefeitura e comprando fazendas. Mais grave, animam se porque sabem que a repercussão da noticia em rede nacional, vai render uma grana a mais para tirar proveito.

A injustiça e o sofrimento do povo na nossa região vêm de longe. Desbravado no inicio do século passado, Tarauacá é uma região da Amazônia isolada, que tem mais Rios e Riachos. Rio Tarauacá, Murú, Acuraua, Gregório, Liberdade, Tauary, Humaitá, Iboaçú, Joacy, Apuanã e Primavera. Douro Jaminawá, São salvador e Jordão. Todos esses Rios foram povoados de nordestinos para trabalhar no corte da seringa. Do período de ocupação até o final do século, mais precisamente, inicio da década, de 80, essa população vivia em uma situação de semi-escravidão. Só tinha direito de cortar seringa. Não podia plantar nem criar. Alem disso, era obrigado “vender” sua borracha somente ao seringalista proprietário do seringal. Quem ousasse descumprir as ordens do barracão era expulso da sua moradia, e ficava sem direito de arrumar colocação em outro seringal. A justiça servia fielmente os ditames dos coronéis de barranco.


Geralmente, os barracões ofereciam dos tipos de premiações que variava entre incentivo e humilhação. Um relógio para o seringueiro que fazia maior produção e uma “calcinha” de mulher para o que fazia menos. Tarauacá era uma dos maiores produtores de borracha do Acre e da
Amazônia. Somente o seringal Alagoas, localizado na divisa de Tarauacá com o município do Jordão, colocava mais de 500 seringueiros Os seringalistas recebiam grandes incentivos, através de financiamentos no Banco da Amazônia. Altevir Leal seringalista de Tarauacá na época, um dos maiores Latifundiário do mundo, foi nomeado pelos militares Senador da Republica. Nabor Junior, também natural de Tarauacá, vem depois com grande força para ocupar por mais de 30 anos, todos os cargos eletivos do estado. Os filhos dos seringalistas, todos estudavam em, Manaus, Belém e Rio de Janeiro. Os filhos seringueiros que representava mais 80% da população, nenhum tinha escola.

Com a falência dos seringais da Amazônia, os seringalistas e o governo, deixaram os seringueiros abandonados e passaram a investir na pecuária. Sem formação e conhecimento para desenvolver
outras atividades econômicas, Só restou dois caminhos para aqueles que foram os construtores de Tarauacá: virar agricultor de subsistência (mandioca, banana milho e arroz) ou vir mendigar na cidade. Terminou a era dos barracões, veio em seguida a redemocratização do País, permitindo maior liberdade de organização social e eleições livres, mas as políticas publicas locais implementadas, não foram capazes de superar a herança perversa do primeiro ciclo de opressão.



O abacaxi de Tarauacá, ou melhor, o Angu, deve ser saboreado e digerido por todos nós. A Rede Globo que denunciou essa situação, não está preocupada com miséria e exclusão social, pelo contrário, o que ela nunca quis nem vai querer é justiça social no Brasil. Nós é que precisamos tomar consciência que um novo Tarauacá não vai gestar no ventre infértil do conservadorismo político e da ganância.
Depende da capacidade de organização popular de redirecionar a construção da nossa historia. Não podemos desconhecer que vivemos nunca região que não tem um projeto melhoria das condições de vida das pessoas. Não tenho duvida nenhuma dos avanços e das conquistas democráticas e sociais realizadas nos últimos 10 anos Pelo governo da Frente Popular e pelo governo Lula. Programas sociais, grandes investimentos de obras e infra-estrutura, melhoraram o padrão de vida da população e aqueceu nossa economia. Os movimentos sociais também deram grandes contribuições na luta pela democratização da posse da terra, no processo de conscientização e na denúncia as injustiças, mas a ausência de um projeto local de produção e inclusão social vem travando o desenvolvimento.

Volto afirmar que as tronqueiras de Tarauacá, têm sua raiz no modo patrimonialista, fisiológico e corrupto de governar. Salvo raras exceções, os governos de Tarauacá só têm exercido o poder para enriquecer pequenos grupos e promover escândalos. Com isso, cria se um clima de continuo
descrédito da imagem do nosso município e afasta os agentes e parceiros que podem ajudar. Tarauacá tem sim, os piores indicadores sociais do estado. Analfabetismo basta ver as estatísticas. Na zona rural as maiorias das escolas estão caindo, faltam merenda, materiais didáticos e transporte escolar. Na atual gestão municipal, o numero de criança fora da escola, repetência e evasão voltaram a crescer. Somos campeões de hepatites crônicas, desnutrição infantil e outras mazelas. Proporcionalmente, temos o maior déficit Habitacional do estado e o maior numero de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza.

Essa situação tem responsável, com nome e endereço. A atual administração municipal também, nada tem feito para minimizar os problemas sociais, muito pelo contrário, só tem agravado ainda
mais. Em mais de 4 anos, não criou um só programa social para a população da zona rural ou urbana. Quem anda nas ruas de Tarauacá e tem coração, fica estarrecido com a quantidade de crianças pedindo esmola. Não construiu uma quadra de esporte, nem abriu uma única vaga de concurso publico. Enquanto isso, o alcoolismo, as drogas e a delinqüência crescem como cogumelo após a chuva. Não construiu uma moradia, não distribuiu lote de terra para as famílias carentes,
não fez um palmo de ramal ou de saneamento. Em contrartida, no mesmo período, saiu da condição de detentor de uma moto velha e uma casa em construção, (conforme sua declaração de bens quando assumiu o cargo de 2005) para três Fazendas em Tarauacá e um em Feijó. É um corrupto de alto coturno. Se a justiça quiser colocar numa cela no centro de reeducação Moacir Prado, não vai ter dificuldade, basta investigar seu patrimônio ou tirar das gavetas seus processos.

Os problemas que Tarauacá enfrenta em grande parte é de responsabilidade da justiça que não funciona, não age para intimidar a corrupção e resguardar os interesses públicos. Na comarca de Tarauacá existem mais de 5000 mil processos tramitando. Tem um juiz e um promotor para Tarauacá, Feijó e
Jordão. Uma justiça assim, só interessa a corrupção e o crime. Defender Tarauacá é tarefa de todos os Taraucaenses. O Governo do estado e governo federal, nos últimos tempos, tem disponibilizado recursos importantes para nossa cidade, mas boa parte vem sendo desviados de forma criminosa por Vando Torquato e sua quadrilha.


No Acre, não há um lugar de um povo mais radiante, generoso, guerreiro e esperançoso. Não há um chão mais fecundo e propicio. Uma floresta com Rios e praias mais exuberantes. Só falta
remover as TRONQUEIRAS.


Chagas Batista – presidente do P C do B de Tarauacá
Raimundo Accioly

Cidadão comum da cidade de Tarauacá no Estado do Acre, funcionário público, militante do movimento social, Radio Jornalista, roqueiro e professor. Entre em Contato: accioly_ne@yahoo.com.br acciolygomes@bol.com.br 68-99775176

1 Comentários

ATENÇÃO: Não aceitamos comentários anônimos

  1. Oportuna e atual a crítica construtiva e provocadora do Chagas Batista aos Tarauacaenses e Acrianos (as).

    A sua luta e resistência frente as várias formas de injustiças sociais deve servir de reflexão e ação dos poderes públicos instituidos, movimentos sociais organizados e das pessoas que doam a sua própria vida em defesa dos excluídos e sem voz.

    Não podemos silenciar. O grito de Amin Kontar ecoa alto em nossas mentes e corações.

    Como diz o poema de Marina Silva "Sei não ser a firme voz
    Que clama em meio ao deserto
    Mas me disponho estar perto
    Para expandir o seu eco"

    Extirpar as tronqueiras de Tarauacá deve ser a missão do coletivo Tarauacaense e Acriano que tenha compromisso com a transparência da gestão pública sustentável e inovadora.

    Professor Dinho da Silva
    Aprendiz e Vendedor de Sonhos

    ResponderExcluir
Postagem Anterior Próxima Postagem