Maria Angélica Oliveira _ G1
24-Jan-2009
Chefe do programa inscreveu animal.
Exonerado, ele diz que está arrependido e que quer devolver o dinheiro.
O nome de um gato foi incluído na lista de beneficiários do programa Bolsa Família no município de Antônio João, em Mato Grosso do Sul. O coordenador do programa, Eurico Siqueira da Rosa, de 32 anos, que fez a inscrição com o nome do animal, foi exonerado do cargo e está sendo investigado em um inquérito no Ministério Público Estadual. Segundo ele, o gato, chamado "Billy", pertencia à esposa.
O ex-coordenador diz que está arrependido e que pretende devolver o valor que recebeu, segundo ele, no período de março a setembro de 2008.
"Estava passando por necessidades financeiras. Então, se colocasse o nome lá, R$ 20 (valor pago por mês) a mais me ajudaria. Meu salário era baixo. (...) Foi um momento de fraqueza. Jamais deveria ter feito isso, mas infelizmente não sei explicar pra ninguém o motivo de ter feito isso", disse.
Ele diz que ganhava R$ 500 por mês como coordenador do Bolsa Família na cidade e que o gato morreu. Para fazer o cadastramento no programa, Rosa diz ter colocado no cadastro seu sobrenome e o da mulher, que, segundo ele, não sabia da fraude.
Agente de saúde procurou 'Billy'
O caso foi descoberto em novembro. Segundo o ex-coordenador, sua esposa foi procurada por agentes de saúde que fazem o acompanhamento das crianças inscritas no programa por meio de pesagens e da verificação dos cartões de vacinação.
"Por coincidência, antigamente ela tinha um gato que tinha esse nome. Ela foi abordada pelo agente de saúde e ele falou que tinha que levar [para acompanhamento] a pessoa de nome Billy. Aí ela falou: ‘eu não tenho ninguém na família com esse nome. Billy, que eu saiba, era um gato que eu tinha'", conta.
O agente de saúde encaminhou a denúncia à prefeitura, que abriu um processo administrativo para apurar o caso e cancelou o pagamento do benefício a Billy.
Exonerado do cargo em dezembro, Eurico diz que já arranjou outro emprego.
"Já tenho propostas. Vou ser assessor parlamentar de um vereador", conta. Segundo ele, o salário será "um pouquinho" maior do que o anterior, mas a jornada de trabalho, bem menor. "Trabalhava oito horas e lá vou trabalhar quatro."
'Coisa inusitada'
O procurador-geral de Justiça do estado em exercício, Antonio Siufi Neto, diz que, após a conclusão do inquérito, o MP poderá entrar com uma ação civil pública para pedir o ressarcimento do dano causado aos cofres do município e a responsabilização penal do ex-coordenador.
"Nunca tivemos um caso parecido. O que a gente vê na mídia é relativa a parentes, pessoas que não precisam, agora, bicho é uma coisa inusitada. A gente lamenta o acontecido e aguarda a responsabilização dessas pessoas envolvidas. Se tiver mais alguém envolvido, terá que prestar contas", disse o procurador.
A Secretaria de Trabalho e Assistência Social de Mato Grosso do Sul informou que as 892 famílias beneficiadas no município continuam a receber o Bolsa Família, mas que haverá um recadastramento para apurar se há outros casos.
Segundo a secretária de Trabalho, Tânia Mara Garib, quando foi descoberto, o coordenador tentou, mas não conseguiu, alterar o nome de Billy no cadastro para "Brendo", nome que remeteria a "Breno", um suposto filho de Eurico Rosa.
"Você não consegue mudar o Número de Identificação Social", afirmou a secretária. Eurico Siqueira Rosa disse ao G1 que não tem filhos.