
No aniversário de 65 anos da Rádio Difusora Acreana a vedete é com certeza o rádio, o aparelho que faz chegar às mais remotas localidades a música e a notícia tão necessários ao lazer e informação das comunidades que não têm acesso à outra mídia, senão à sintonia das ondas curtas, médias, tropicais ou de freqüência modulada.
No Acre, o rádio tem importância estratégica e a relação do homem com seu aparelho beira à filosofia: "o rádio é meu amigo é um companheiro", disse o vigia Francisco Elias Saturnino, que usa um fone de ouvido para escutar "o tempo todo" música e notícias – mais notícia que música, lembra ele, que trabalha na Hospedaria Flutuante de Rodrigues Alves, espaço público que abriga ribeirinhos em trânsito pela cidade. Saturnino tem 52 anos, a maioria dos quais, lembra ele, ouvindo rádio no interior do Vale do Juruá. Saturnino é ouvinte freqüente da RDA e gosta do programa de recados.
Nesse contexto, a RDA ajuda formar a identidade acreana. Saturnino fez questão de encomendar um aparelho novinho em folha da Zona Franca de Cobija, na Bolívia, levado a Rodrigues Alves por um amigo. "Paguei R$60. É muito bom", diz ele, que anda com o rádio a tiracolo.
Mas não são apenas as pessoas de maior idade que estabeleceram um tratamento diferenciado ao aparelho de rádio. O jovem Sebastião Costa de Souza, de apenas 19 anos, tem tanto carinho pelo rádio que o mantém na caixa original. Apenas os botões e a antena estão de fora. "Fica aqui dentro para conservar", disse, ao lado do aparelho que, não por acaso, também considera "companheiro" –palavra que, aliás, serve de nome para o modelo de uma marca conhecida.
Apenas quem anda no interior, nos locais mais longínquos do Estado é que pode avaliar a importância do rádio na rotina de quem vive na floresta, nas fazendas, colocações –daí a importância de um emissora moderna e sintonizada com o povo do Acre como "A Voz das Selvas", como é conhecida a RDA.

Daí em diante, o aparelho só evoluiu. E acabou aparecendo na vida de pessoas como o comerciante Garcia Costa Braga, que também usa a declaração "ouço rádio a vida toda" para definir o tempo em que tem contato com o aparelho.
Ou a viúva Antônia Katukina, moradora da Aldeia Bananeira da Terra Indígena Campinas/Katukina. "Gosto de ouvir música", diz. "E o jornal também", completa, sorrindo ao alto de seus 77 anos de vida.
Edmilson Ferreira (Agência de Notícias do Acre)