Do interior do Acre, irmãos se dedicam à arbitragem e realizam sonho de trabalhar juntos

Orleildo e Marcelo Bussons, árbitro e assistente do quadro da Federação de Futebol do Acre, são da cidade de Rodrigues Alves, e estão atuando pela primeira vez na elite do Acreano.

A temporada do futebol no Acre está andamento com o primeiro turno do Campeonato Acreano e dois personagens, que não fazem parte dos elencos dos clubes, estão aproveitando para realizar um sonho: integrar a arbitragem que trabalha nas partidas da elite estadual.

Nascidos na cidade de Rodrigues Alves, a 627 km de Rio Branco, capital do estado, os irmãos Orleildo e Marcelos Bussons estão atuando pela primeira vez na primeira divisão. Eles já trabalharam na segunda divisão em 2016.

Orleildo, o mais velho, tem 33 anos e é árbitro. Tem formação universitária em economia pela Universidade Federal do Acre (Ufac) e duas pós-graduações, em gestão e elaboração de projetos e em gestão pública municipal, pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Marcelo, o mais novo, tem 28 anos, é assistente e ingressou na arbitragem incentivado pelo irmão. O interesse é ingressar em uma faculdade de educação física em breve.

Orleildo Bussons mostra cartão amarelo durante vitória do Andirá sobre o São Francico — Foto: Manoel Façanha/Arquivo Pessoal

Orleildo começou a apitar jogos na região do município de Rodrigues Alves e depois pelas cidades do Vale do Juruá.

– Eu sempre gostei de arbitrar. Foi uma coisa que veio dentro de mim mesmo. Sempre joguei na época dos Jogos Escolares, mas foi na arbitragem que me destaquei mais – conta o árbitro, que com a bola nos pés jogava de volante.

Marcelo via o irmão em ação e acabou se interessando, mas pelo trabalho de assistente, que antigamente chamavam de “bandeirinha”. Quando jogava futebol atuava na zaga, mas acreditou que teria mais futuro não fazendo parte do jogo como atleta.

– Teve um dia que faltou um assistente, eu peguei a bandeira e comecei a marcar e fui pegando gosto – recorda.

Ambos fizeram o curso de árbitros da FFAC em 2014 e desde então integram o quadro de arbitragem. Mas a oportunidade na primeira divisão só surgiu agora em 2021. Eles estrearam em jogos diferentes, mas no mesmo dia, 24 de julho. Marcelo foi um dos assistentes na vitória do Náuas sobre o Andirá por 1 a 0. Orleildo apitou a vitória do São Francisco sobre o Vasco-AC por 2 a 1.

Orleildo Bussons estreou na elite do futebol acreano na vitória do São Francisco sobre o Vasco-AC por 2 a 1 — Foto: Manoel Façanha/Arquivo Pessoal

– Seu eu dissesse que não estava ansioso estaria mentindo, até porque nós somos seres humanos. Mas foi só dar a primeira apitada que, graças a Deus, me senti bem, tranquilo. Conseguimos começar e terminar a partida bem, não aconteceu nenhum imprevisto, graças a Deus. Fizemos uma boa partida – diz Orleildo.

– A ansiedade já começou desde quando a escala saiu. A ansiedade de entrar no campo e mostrar o que a gente sabe. A estreia é diferente porque trabalhar com pessoas novas, que você só falava por telefone, é uma sensação diferente, gratificante – afirma Marcelo.

Marceo Bussons ingressou na arbitragem inspirado no irmão — Foto: Manoel Façanha/Arquivo Pessoal

Os irmãos, que também integram o quadro de arbitragem da Federação Acreana de Futsal (Fafs), ao serem questionados sobre que nota dariam para a atuação na estreia, preferem deixar a avaliação para os responsáveis pelas escalas.

– A nota na estreia a gente deixa pra comissão de arbitragem – dizem aos risos.

Orleildo lembra que o desejo de qualquer árbitro é alcançar um dia o quadro da CBF e Fifa, mas se mostra ciente de que por conta da idade e da localização dificilmente vai alcançar esse postos. Apesar disso, garante que a felicidade e a satisfação de trabalhar representando o município de Rodrigues Alves no Campeonato Acreano já é motivo de orgulho.

– Todo árbitro almeja chegar na CBF, numa Fifa. Se eu morasse em Rio Branco, acredito que as portas se abrem mais. Mas é uma satisfação grande representar a nossa arbitragem, não só de Rodrigues Alves, mas da região – afirma.

A paixão pela arbitragem acabou mudando o senso de torcedor de ambos. Se antes torciam para um time, agora a torcida vai para quem conduz o jogo fazendo com que se cumpram as regras.

– Quando a gente está assistindo jogo não torce pra nenhum time, ficamos torcendo para aqueles quatro que estão conduzindo a partida. A gente torce para a arbitragem – fala Marcelo.

Orleildo ressalta que ambos receberam apoio dos pais para seguir a carreira na arbitragem. Fã dos ex-árbitros acreanos Antônio Neuriclaudio e Josimar Almeida, ele revela o sonho da dupla.

– Tanto o pai como a mãe deram aquela força (para irem pra Rio Branco). O nosso objetivo é trabalhar juntos. A gente acredita que em breve, num futuro não muito distante, a gente vai receber essa oportunidade – declara.

Orleildo Bussons apita fim de partida na vitória do Andirá sobre o São Francisco, pela sexta rodada do Acreano — Foto: Manoel Façanha/Arquivo Pessoal

A entrevista foi realizada através de videochamada no dia 30 de julho. E depois da conversa com o ge, os irmãos tiveram o sonho realizado. Na rodada do último sábado (14), Orleildo apitou e Marcelo foi um dos assistentes do confronto Andirá e São Francisco, na Arena da Floresta, que terminou com vitória do Morcego por 1 a 0, pela sexta rodada do estadual.

Orleildo (C) e Marcelo (D) são irmãos e atuam na arbitragem — Foto: Manoel Façanha/Arquivo Pessoal

– Eu e o Marcelo na mesma partida. Histórico! – exclamou o árbitro ao comentar sobre a escala.

Depois de realizar o sonho de trabalhar ao lado do irmão, Marcelo tem mais um a alcançar. Com o auxiliar acreano Rener Santos como inspiração, espera ter a oportunidade de fazer dupla com ele na assistência em algum jogo.

– Um cara espetacular. Meu sonho é trabalhar com ele – revela.

Rener Santos com o presidente da FFAC, Antônio Aquino; assistente é inspiração para Marcelo Bussons — Foto: Antonio Assis/Arquivo pessoal

Para finalizar, Orleildo enfatiza que para a arbitragem o jogo de futebol não começa apenas quando a bola rola. E indica o que é fundamental para ter atuações eficientes e com qualidade.

– Quando a gente recebe a escala, procuramos saber informações de que atleta é, qual é o mais agressivo, como se posiciona. A gente procura fazer essa leitura antes do jogo que é para facilitar dentro do jogo. O jogo não começa quando toca o apito. O jogo começa quando sai a escala. Para se conduzir uma boa partida o árbitro tem que estar bem em três aspectos: tecnicamente, fisicamente e psicologicamente – encerra.

Por Duaine Rodrigues — Rio Branco, AC
ge.clobo.com

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