Humanidade, zelo e carinho com os moradores da região, em Tarauacá, foram a tônica da gestão Gladson Cameli nesta terceira edição; Tribunal de Justiça do Estado do Acre também esteve presente
Sexta-feira, 16 de julho. Passava um pouco das 5 horas e o sol nem havia surgido atrás das campinas elevadas do Acuraua, quando os missionários da supercaravana do governo já estavam de pé, planejando, entre boas goladas de café e nacos de pão de milho, as atividades do primeiro dia de trabalho intenso de mais uma edição do programa Ação Humanitária Itinerante, dentro do Complexo de Florestas do Rio Gregório, na zona rural de Tarauacá (distante 440 quilômetros de Rio Branco pela BR-364).
No dia anterior, para receber as pessoas, eles haviam deixado em estado impecável espaços como uma ampla farmácia com mais de 100 tipos de medicamentos, o galpão do Cine-Pipoca, para a criançada, e o Ônibus Lilás, veículo especialmente adaptado para atender vítimas de abuso sexual e de violência doméstica.
Foi nesse ambiente acolhedor, na sede da Unidade de Gestão Ambiental do (Ugai) Acuraua (a 45 quilômetros da cidade de Tarauacá, às margens da BR-364 no sentido para Cruzeiro do Sul), que o governo do Estado do Acre promoveu o terceiro evento desse tipo, um conjunto expressivo de serviços idealizados pela gestão do governador Gladson Cameli para recuperar a saúde, a paz e a cidadania das pessoas que vivem nas comunidades mais remotas do estado, no interior da floresta.
Mais de 400 pessoas passaram por ali nos dois dias de serviços, perfazendo mais de 3.280 atendimentos só na área de saúde, com 443 consultas médicas.
No Acuraua (pronuncia-se “Acuráua”), a equipe do Estado teve o apoio da Prefeitura de Tarauacá, que disponibilizou pelo menos 16 profissionais, entre técnicos de enfermagem, enfermeiros e odontólogos, para a realização de testes rápidos de infecções sexualmente transmissíveis e a extração de dentes em apoio aos demais odontólogos da Secretaria de Estado da Saúde do Acre (Sesacre).
Em outra frente estava o Tribunal de Justiça do Estado (TJAC), com o seu programa Justiça pela Paz em Casa, que levou informação qualificada sobre violência doméstica e mediação de conflitos, cujo objetivo foi solucionar problemas de convivência na comunidade antes que sejam judicializados, ou seja, que se tornem ações judiciais.
Nas palavras de Israel Milani, titular da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e das Políticas Indígenas (Semapi) e que representou o governador Gladson Cameli, o olhar humanizado para as pessoas é o que move essas ações integradas da sua pasta com outras secretarias.
“Não adianta olhar para o meio ambiente sem pensar nas pessoas que vivem dentro das florestas. Então, quando trazemos saúde, trazemos também dignidade, ramais e todas as condições para que essas pessoas possam ter acesso ao serviço social, à escola e a uma vida saudável”, pontuou Milani.
“O que estamos fazendo neste momento é justamente o que o nosso governador pediu, que é trazer dignidade com um olhar diferenciado para a população que mora dentro das florestas, valorizando o ser humano, pois é para essas pessoas que acordamos cedo e vamos dormir tarde todos os dias”, disse Milani.
O Ação Itinerante foi idealizado pelo governo Gladson Cameli para levar dignidade às populações mais isoladas do estado, que, por meio do programa, podem ter acesso facilitado a consultas médicas e odontológicas, a exames laboratoriais, a vacinação e emissão de documentos pessoais, além de atendimento social, jurídico e psicológico, esses últimos voltados, principalmente, a famílias vivendo em condições muitos vulneráveis.
Além da Semapi e da Sesacre, por parte do Poder Executivo compõem o corpo do programa Ação Humanitária Itinerante o Gabinete da Primeira-Dama, a Secretaria de Estado de Assistência Social, dos Direitos Humanos e de Políticas para Mulheres (SEASDHM) e a Secretaria de Turismo e Empreendedorismo (Seet).
Após ser abandonada pelo marido, mulher viajou 3 dias em busca de médico para um dos filhos
A vida de Maria de Conceição França é um dos exemplos do sofrimento que muitas famílias suportam por viver isoladas na floresta. A mulher de 21 anos foi uma entre os atendidos pelos profissionais da SEASDHM, com cesta básica e outros auxílios, depois de ser deixada para trás com os filhos pelo marido, na Comunidade 1º de Junho, às margens do Igarapé Bacuri, afluente do Rio Gregório, a pelo menos 400 quilômetros da Ugai Acuraua.
“Ele abandonou a gente quando o nosso [filho] mais novo adoeceu. Então tive que sair de lá por conta própria para tentar um médico pra minha criança em Tarauacá”, conta ela, que dentro da comunidade vivia do plantio de abacate.
Maria juntou tudo o que tinha, algumas poucas mudas de roupas, dela e das crianças, e pegou uma carona numa canoa com motor de rabeta até a casa da sogra, às margens da BR-364. Levou um dia de viagem pelo Igarapé Bacuri até a foz, no Rio Gregório, e navegou mais dois dias pelo mesmo rio para alcançar o km 70 da estrada, onde está a ponte.
A existência espartana na floresta a deixou com aspecto sofrido, de mulher envelhecida. Muito mais que seria pela idade biológica, marcas de uma vida de martírio, de luta constante contra os desafios que a selva impõe, todos os dias, para homens e mulheres que a tem como moradia.
Na casa da sogra, cujo coração nobre a acolheu de braços abertos, ela soube que médicos do Ação Humanitária estavam a apenas três quilômetros dali. Na Ugai do Acuraua, Maria Conceição foi auxiliada, primeiramente, pela advogada Isabela Fernandes, chefe da Divisão da Rede de Atendimento à Mulher da Diretoria de Políticas para Mulheres da SEASDHM. Depois, pela médica pediatra, na consulta para os filhos.
“Tratamos de auxiliá-la imediatamente, providenciando apoio psicológico e cesta básica. A coisa é de partir o coração. Quando perguntamos qual seria o almoço dela hoje com as crianças e com a sogra, nos disse que seria bolacha e leite”, conta Isabela Fernandes. A Ação Humanitária também forneceu um colchão, já que na casa da sogra dela só havia um.
Explica James Alves, chefe da da Divisão de Educação Ambiental e Práticas Sustentáveis da Semapi, que em todas as edições do programa a organização fornece almoço às pessoas que comparecem. Maria da Conceição pôde comer com os filhos uma macarronada com salsicha, depois de ser atendida também pelos profissionais do cadastro do Bolsa Família e de outros benefícios.
“Hoje, eu estou muito grata porque diminuiu o meu sofrimento. Seu menino, apesar de toda essa luta que nós passa [sic], Deus sempre é bom comigo e cuida dos meus filhos”, diz ela, em gratidão aos agentes do Ação Humanitária Itinerante.
“Para nós, é muito gratificante quando conseguimos fazer a diferença na vida de uma família. É exatamente essa a grande finalidade destas ações”, destaca James Alves, que, além de fazer parte da área estratégica da Semapi, é sociólogo de formação e um dos maiores entusiastas da interiorização dos serviços públicos.
Saúde Itinerante impressiona: mais de 3,2 mil atendimentos em 11 serviços diferentes
Os números do Saúde Itinerante impressionam pela plenitude com que os moradores de parte do Complexo de Florestas do Rio Gregório atenderam ao convite de participar. Entre a sexta-feira, 16 e o sábado, 17, foram ao menos 3.280 atendimentos na comunidade, com mais de 443 consultas médicas e outros 143 procedimentos odontológicos. (Veja a tabela completa abaixo).
“Um fator muito importante foi a adesão dos profissionais de saúde da Prefeitura de Tarauacá”, lembra Rosemary Fernandes Ruiz, coordenadora do Programa Saúde Itinerante Especializado, da Sesacre. “Estamos muito felizes por essa integralidade dos serviços, em que as pessoas podem desfrutar do que o Sistema Único de Saúde oferece. E é muito louvável o comparecimento das pessoas, que entenderam que é importante cuidar da saúde, que devem aproveitar as oportunidades que o Estado proporciona”, completa a coordenadora.
Confira os números do atendimento
Consultas Médicas: 443
Atendimentos Odontológicos: 143
Atendimentos de Enfermagem: 725
Atendimentos do Serviço Social: 33
Atendimentos com orientação farmacológica: 18
Exames laboratoriais (Imunologia, bioquímica, hematologia e urinálise): 140
Exames de Ultrassonografia: 61
Exames Preventivos de Câncer do Colo Uterino (PCCU): 26
Testes rápidos para hepatites, sífilis, HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis: 952
Doses de vacinas aplicadas contra Covid-19, gripe e outras doenças : 297
Receitas Atendidas: 442
Total Geral de Atendimentos: 3.280
Acesso facilitado a exames complexos permitem salto de qualidade na vida de agricultores
Um dos grandes trunfos do Ação Humanitária Itinerante no âmbito da saúde é o de oferecer a possibilidade de as pessoas que vivem no campo ali realizar exames considerados de ampla complexidade, sem precisar agendá-los na cidade. Avaliações como o PCCU, para mulheres, e de imagens do fígado e da vesícula biliar, também para homens, muitas vezes são difíceis até na capital, Rio Branco.
É o caso de Maura Silva Moreira, 35 anos, mãe de nove filhos, a primogênita uma menina de 20 anos e a caçula uma garotinha de 1 mês: “Vim fazer a certidão de nascimento da Daniele e aproveitei pra pegar uma ficha pro PCCU. Já nem me lembro quando fiz isso antes”. Além do PCCU, Maura obteve encaminhamento para o filho Izael, de 10 anos, com um médico neuropediatra . Ela optou por fazer a consulta com o neurologista em Cruzeiro do Sul, a pouco mais de cem quilômetros da Ugai do Acuraua, onde também pegará o resultado do preventivo em uma semana.
No entendimento da enfermeira Jocelene Fernandes, que auxilia as pacientes na avaliação com o médico ginecologista, essas ações dão um salto de qualidade no atendimento em saúde às pessoas. “É muito bom quando elas se sentem servidas pelo Estado por serviços tão importantes. Isso é o que nos move”, diz ela.
As biomédicas Thaís Bestene e Francianny Mariscal são as responsáveis pela produção de exames laboratoriais do Saúde Itinerante. Elas contam da satisfação de terem visto duas grávidas comentarem que estavam gratas por ter economizado R$ 400 cada uma por exames que puderam ser feitos nesta edição do Acuraua.
“Você imagine que a vida já é difícil aqui, então ter economizado todo esse dinheiro é de uma importância tremenda para essas mães”, avalia Thaís. Entre os diagnósticos oferecidos também estão os de hemograma completo, urina, glicemia e testes rápidos de Covid-19.
O entendimento de autoridades que protagonizaram o Itinerante no Acuraua
Andreia Brito, juíza auxiliar da presidência do Tribunal de Justiça do Estado do Acre
André Crespo, secretário em exercício de Assistência Social dos Direitos Humanos e Política para Mulheres
Maria Lucinéia Menezes, prefeita de Tarauacá
Israel Milani, Secretário de Estado de Meio Ambiente