RÉGIS PAIVA/CONTILNET - Aos 66 anos de idade o poeta, cantor e compositor acreano Sérgio Areal Souto, ou simplesmente Sérgio Souto, revelou em entrevista à ContilNet que está voltando para residir no Acre. Com quase mil músicas compostas e gravadas em 13 discos ao longo da carreira, este acreano de Sena Madureira disse ainda ter muita inspiração para continuar cantando e encantando os brasileiros.
Sobre os planos para o futuro próximo, o cantor revelou que não pretende parar de gravar. “Tenho 13 discos gravados e ainda vou gravar o 14°, o 15°, pois não pretendo parar. Tenho um projeto de disco para lançar este ano e estou na dúvida: ‘Canções para ninar gente grande’ ou “Para não dizer que falei de amores’. Em qualquer das hipóteses serão canções inéditas, pois continuo compondo e escrevendo. Mas também gostaria e fazer um disco com os grandes músicos aqui no Acre”.
Perguntado sobre ter sido um dos pioneiros na defesa das minorias, Sérgio Souto falou um pouco sobre a música “Dama”: “Foi o meu segundo disco, ‘Tudo que me faz lembrar você’, uma música feita para o meu amigo Maués Melo. Ele era uma figura ímpar e que atravessou o rio ainda muito jovem, mas deixou sua marca aqui no Acre. A música era mais ou menos assim: ‘Ela passa rebolando os seus quadris. Cada passo é estudado, é uma atriz. Dama, dama…’, mas foi apenas uma homenagem a ele, que era um furacão, com sua dança e arte”.
Sobre a situação atual da música brasileira, Sérgio disse que hoje é tudo voltado para a mídia, mas de qualidade duvidável. “Tem música boa, mas está escondida e fica à margem do grande público e sem espaço nos principais meios de comunicação. É o imediatismo, com uma pressão para as músicas fáceis de alto consumo. Muito disso é apenas um lixo bem embalado e que imbeciliza alguns grupos”.
Neste sentido, o cantor acreano disse ter interesse em desenvolver programas de música para o Acre, mas disse ser necessário primeiro ampliar os equipamentos. “Mas aqui temos o teatro Hélio Melo, um espaço lindo e construído com muito carinho, mas parado e sem uso. Esperamos que o governo reative. Ainda assim, o meu pensamento é fazer um projeto temático, com um apanhado histórico sobre os grandes autores, como Pixinguinha, Noel Rosa e outros. Para isso, monta-se um pequena estrutura de músicos, e faz-se apresentações semanais em espaços abertos ou fechados, resgatando a história da boa música”.
Sobre o resgate de músicos e compositores acreanos, Sérgio disse não ter recebido qualquer contato por parte dos cursos de História ou de Música na Universidade Federal do Acre (Ufac) e desconhece algum trabalho deste tipo sobre os demais cantores acreanos, como o sambista Da Costa: “Veja o caso do Tião Natureza, que deixou um registro em disco, com umas 10 músicas, mas tenho certeza de existirem alguns cassetes dele por aí e alguém deve ter este material guardado. Buscar estes registros é necessário para não se perder a história e a nossa cultura acreana”.
Nesta linha de registro dos poetas locais, o poeta madureirense citou o próprio caso: “Eu tenho gravadas umas 400 músicas e inéditas mais de 500. Se eu morrer, vai tudo comigo. Gostaria de um apoio das universidades para poder fazer até mesmo uma gravação caseira, mas com qualidade, e com as partituras na forma de um ‘song book’. Estou aberto para discutir o tema com a faculdade de música. Eu me considero um bom compositor e tenho parceiras com os melhores do Brasil: Paulo Cesar Pinheiro, Aldir Blanc, Sérgio natureza, Jorge Vercilo, J. Maranhão e outros. Todo esse material merece um registro histórico”.
Perguntado sobre os planos para este ano, o músico disse ressaltou o fato de, no Brasil, tudo somente começa de fato após o carnaval: “É quando ano realmente começa no país. A partir daí é quando vou botar no papel alguns projetos e fazer uma ação do tipo rompendo o cerco. Eu fui independente a vida toda. E vou lutar como sempre lutei”.
Sobre voltar a residir no Acre depois de tantos anos rodando pelo Brasil, Sérgio Souto disse já se considerar residente aqui, tendo planos para, em breve, fixar residência de forma definitiva: “Estou de volta à Aldeia, como já disse na música. Era um desejo antigo, pois em outro momento vim para ficar e por forças ocultar não foi possível, mas isso é uma outra história ainda não contada. Agora, quero paz e luz, jazz e blues. Ser feliz”.
O começo da carreira
Ainda em 1979 Sérgio Souto aparecia para a música, quando venceu um festival da Brahma, com a música “Falsa Alegria”. O cantor revelou que até este momento ainda trabalhava como fotógrafo, tendo seu próprio estúdio e todo o equipamento necessário para a profissão. Mas o festival foi um divisor de águas na vida dele, pois naquele momento decidiu e entendeu ser possível de viver da música.
O resultado do primeiro sucesso foi a venda de todo o equipamento fotográfico, inclusive laboratório e câmeras, e partir para a vida de músico e compositor. Nesta época, com o reconhecimento obtido, Sérgio viu sua imagem divulgada para todo o Brasil, inclusive com apresentações nos principais canais de televisão.