Cinema acreano comemora 40 anos com extensa programação na Biblioteca da Floresta

Adalberto Queiroz (D), um dos pioneiros do cinema acreano (Foto: Cedida)

A Fundação Elias Mansour (FEM) e a Associação Acreana de Cinema (Asacine) promovem o “10º Festival Acreano de Vídeo”. Com entrada gratuita, a solenidade de abertura será nesta segunda-feira, 25, às 19h30, no auditório da Biblioteca da Floresta. Em seguida, às 20 horas, ocorrerá um debate com o professor Hélio Costa Jr., autor do livro “Acreanos do Cinema”, sobre o tema “Homens e Mulheres da História do Cinema Acreano”.

A programação inclui exibição de filmes até o dia 2 de março e, ao final de cada sessão, haverá um debate com os realizadores locais. O evento comemora os 40 anos de produção cinematográfica no Estado, iniciado em 1973, época em que Rio Branco ganhava o Ecaja – Estúdio de Cinema Amador de Jovens Acreanos –, que fora concebido por Adalberto Queiroz, Tonivan [Antônio Evangelista] e João Manhãs.

Além de produzir, a entidade se articulou e conquistou, junto ao poder público, a criação do Departamento de Assuntos Culturais da Secretaria de Educação, o embrião da Fundação Cultural, a atual FEM. O trio de jovens, autodidatas, ainda conseguiu um espaço para as suas reuniões, local que se tornou a Filmoteca Acreana, na Biblioteca Pública Estadual. A movimentação influenciou artistas e outra área acabou se organizando, o teatro.

Adalberto Queiroz conta que o movimento começou com a Associação de Teatro Amador do Acre, ainda na década de 1970, com nomes como José Alves, Naylor George, Carlinhos Frota e Osvaldo Bandeira. Surgiram, então, os grupos Fruta, Macaíba e o Semente. Este último desenvolveu o Centro de Pesquisa e Criatividade, financiado pela extinta Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor, por meio da Funbesa, que abrigava as linguagens do teatro, cinema, música, artes plásticas e literatura.

O projeto possuía vários núcleos experimentais, um deles, porém, concentrava todas as ações: o Teatro Horta. Lá, o Grupo Imagem reuniu uma boa safra de atores, como Henrique Silvestre, Danilo de S’Acre, Márcia Fecury, o ex-governador Binho Marques e Silvio Margarido. Alguns até chegaram a dialogar com o audiovisual. Quando chegam os anos 1980, a situação na capital comportava uma intensa explosão artística que foi encabeçada por uma geração destemida e idealista.

O Teatro e a Telona - Ainda hoje, a relação entre o cinema e o teatro permanece de maneira muito colaborativa, por vezes levada na camaradagem, já que é necessário um alto investimento. Como não há mercado, as duas áreas acabam se completando e resistem apenas pela liberdade que o artista precisa ter para se expressar. Nesse caso o “apenas” já é motivo suficiente e incontestável. “O Ecaja foi, no sentido de representatividade, a nossa fase heróica”, arrisca Margarido.

No passado, em 1979, ele e Binho Marques foram vencedores do 1º Festival Acreano do Filme Super-8, na Universidade Federal do Acre (Ufac), pela animação intitulada Xadrez (vídeo acima). “Não chegamos a participar de concursos nacionais, ficamos por aqui mesmo. O público também era reduzido, formado basicamente por quem fazia parte do Centro de Pesquisa e Criatividade, e nosso trabalho acabava tendo mais visibilidade nas mostras e festivais”, explica.

Outra figura atuante, o artista visual Danilo de S’Acre atualmente ainda flerta com a famosa sétima arte. A sua obra “Labirinto” chegou a ser premiada em um dos festivais locais. “Passamos por uma época em que tudo era muito forte, nós éramos jovens, corajosos, lutando contra a ditadura. E era o nosso trabalho que nos dava força pra continuar e questionar. A expectativa de estar em constante produção era muito grande”, relembra.

Em tempos de Laranja Mecânica, O Poderoso Chefão, Tubarão, Taxi Driver, Apocalypse Now e o início da trilogia de Guerra nas Estrelas, lançados na década de 1970, o cinema acreano ainda era desbravado de forma modesta, quase rural, e falava de si, das coisas regionais. Mas, os nossos realizadores dividem, sim, particularidades com os renomados cineastas de Hollywood. Em comum, existe a inquietação, a vontade de expor pensamentos, posicionamentos e, obviamente, o fazer artístico. Fazer bem feito, claro, na medida do possível.

Vida longa aos nossos cineastas:

Adalberto Queiroz, Tonivan, João Manhãs, Laurêncio Lopes, Fátima Almeida, Síglia Abraão, Eduardo Namen, Assis Ferreira, Assis Freire, Silvio Margarido, Binho Marques, Guilherme Francisco, Jorge Carlos, Adalberto Dantas, Moacir Barbosa, Talita Oliveira, Italo Rocha, Carina Cordeiro, Marcos Afonso, Jorge Carlos, Nilda Dantas, Betho Rocha, Silene Farias, Gilberto Trottamondos, Sérgio Carvalho, Valdir Calixto, Enilson Amorim, Marcelo Zuza, Clenilson Batista, Ney Ricardo, Juliana Machado, Isabelle Amsterdam e Daniela Andrade.

André Gonzaga (Assessoria FEM)

Postar um comentário

ATENÇÃO: Não aceitamos comentários anônimos

Postagem Anterior Próxima Postagem