A divulgação dos números sobre o referendo jogou um balde de “me desculpe” no ímpeto de alguns políticos acreanos que tentavam “partidarizar” a disputa entre os dois fusos. Esta é a conclusão a que chegou o deputado estadual e líder do governo Moisés Diniz (PC do B), ao valar o resultado da consulta Para ele, os números de cada município indicam causas mais “naturais”.
Moisés observou que o cúmulo da “esperteza política” atingiu o ápice quando se tentou vincular a disputa para governador ao debate sobre fusos. Ele lembra que quando Tião Viana (PT) perdeu a eleição em Rio Branco, não faltou “cientista político” para explicar a derrota à luz da disputa entre fusos. Na opinião do deputado, agora sai o resultado do referendo e os números demonstram que o povo votou sob outra lógica, apegado a outras razões.
Segundo observação do parlamentar, em Acrelândia, aonde Tião Bocalom teve uma vitória estrondosa, o povo votou a favor da manutenção do fuso atual. “Que vexame! Em Rio Branco, aonde Tião Viana perdeu a disputa, o fuso empatou”, frisou. Em todos os municípios do interior, à exceção de Acrelândia, o resultado é praticamente o mesmo: o povo quis a volta do velho fuso. Independente do voto dado a Tião Viana ou a Tião Bocalom.
O Juruá votou em Tião e no velho fuso
Nos municípios do Juruá, aonde Tião Viana venceu, o povo pediu a volta do velho fuso, explicou Moisés Diniz, lembrando que Cruzeiro do Sul tem uma diferença de 28 minutos a mais em relação a Rio Branco, por isso que lá o início das aulas foi empurrado para frente em uma hora, no lugar dos 30 minutos do resto do Estado.
No vale do Tarauacá, por exemplo, Tião Viana disparou para governador, mas o velho fuso ganhou na mesma proporção. Lá, Bocalom teve 35% dos votos e o “não”que ele pregava teve 69%. “O povo de lá gostou mais do velho fuso do que dele”, observou o deputado comunista
Em Jordão, Bocalom teve 35% dos votos e o velho fuso, que ele defendia, obteve 64%. Em Feijó, o tucano teve 27% dos votos e o velho fuso obteve 63%. Em contrapartida, Tião Viana teve praticamente os mesmos votos dados ao velho fuso. De acordo com Moisés, “como dizia um índio lá no Jordão: ´Bocalom, até tua voz é chata`. Nós queremos o velho fuso, mas não queremos tu”.
Naquela região, segundo o parlamentar, os números do velho fuso são iguais aos números de Tião Viana para governador: acima de 60%. Os números do fuso não levaram em conta os votos para governador e presidente, a filiação do prefeito local ou os discursos dos políticos.
Moisés lembrou que ainda houve quem vinculasse os votos dados ao deputado federal Flaviano Melo (PMDB) ao projeto do referendo apresentado por ele. Os números mostram Flaviano Melo tendo uma votação estrondosa em Rio Branco, aonde o fuso empatou, fraca nos municípios aonde o velho fuso venceu disparado e forte nos municípios aonde o PMDB governa.
O eleitor urbano está mais propenso a mudar o fuso
Moisés Diniz disse que o povo votou olhando para os ponteiros do seu próprio relógio. Há ainda uma clara evidência de que, quanto mais urbanizado o município, mais votos pelo novo fuso.
O deputado exemplificou também que entre Rio Branco que empatou e municípios que unificaram altos percentuais pela volta do velho fuso há, ainda, um conjunto de municípios, mais urbanizados, que tiveram uma diferença menor entre os dois fusos, como Cruzeiro do Sul, Quinari e Plácido de Castro.
Santa Rosa, como peculiaridade, teve diferença pequena entre os dois fusos. É que a sua população indígena, majoritária, não está muito interessada em ponteiro de relógio, com os seus bancos, transações comerciais e grades televisivas. Ela olha o nascer e o pôr do sol.
Mas aqui, como em outras urnas indígenas de outros municípios, os povos indígenas votaram em solidariedade ao homem das cidades, com as suas necessidades vinculadas a um fuso mais próximo de suas atividades laborais e financeiras.
“Eu ouvi o Biraci Yawanawa dizer: ´qualquer um desses fusos não interessa a nós aqui nas aldeias. Mas, se o novo fuso ajuda a vida do homem branco, nós vamos votar pelo 55”.
Para Moisés, o que se destaca nesse referendo é a nulidade dos políticos em questões que não lhe dizem respeito. “O povo votou do jeito que quis, fez a sua própria propaganda e disse que o fuso não é do governo e nem da oposição”, destacou o deputado.
Outro fato a se destacar, na opinião de Moisés Diniz: foi a primeira luta aberta entre intelectuais e empresários. Os primeiros foram mais eficientes e, além do mais, vinham de uma militância de dois anos contra o novo fuso.
De parte dos políticos da Frente Popular, na avaliação do parlamentar, houve uma forte acomodação, medo e falta de solidariedade a Tião Viana, autor do projeto que mudou o fuso. “Eu não ouvi uma palavra de apoio das dezenas de líderes da FPA”, frisou.
O povo decidiu não dar carona aos políticos
Parte da oposição, com muita desqualificação, pegou carona no movimento de intelectuais e jornalistas, assegurou Moisés Diniz, acrescentando que este pessoal virou papagaio de pirata num movimento que defendia tudo que esses políticos abominam.
Segundo ele, “imagine que na terra de Bocalom, urbanizada, com mais 70% de suas florestas devastadas e constituída de “imigrantes da madeira”, o novo fuso teve vitória estrondosa. Logo, Acrelândia, para ser o símbolo de que os políticos de oposição não interferiram em nada nos resultados do referendo”.
Essa eleição de 2010, incluindo o fuso horário, faz o deputado lembrar a disputa de Feijó, quando os grandes líderes da oposição achavam que tinham elegido Dindim a prefeito. Agora em 2010 os números desmontaram a tese.
O referendo sobre o fuso horário serviu ainda para desmascarar um discurso de dois anos: “que Tião Viana desrespeitou a vontade popular e seria penalizado por causa disso”. O povo votou diferente.
“Então Jesus disse: Daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. E o povo falou: “nós queremos o nosso velho fuso de volta e queremos o Tião Viana governador. Agora é seguir os ponteiros do relógio”.
Moisés Diniz é Deputado Estadual Pelo PCdoB