“O amor é feito capim (...). A gente planta, ele cresce / ai vem uma vaca e acaba tudo”. Eu que estudei, embora vagamente, os conceitos básicos de amor desde a Bíblia, passando por filósofos como Platão, Santo Agostinho e mesmo Schopenhauer até a literatura moderna, nunca havia me deparado com um conceito tão patente quanto pateta que chega a ser patético, como esse cantado por uma banda musical de nome Aviões do Forró.
Eu bem que gostaria de dizer uns desaforos – como diz meu pai – a esses grupos musicais. Não vale a pena. Eles não iriam adiante se não encontrassem idiotas suficientes para ouví-los. E o mais lamentável é que esses idiotas, muitas vezes, somos nós mesmos!
Não é verdade que a música para ser boa tem que ser algo parecido com a erudita, a clássica, por ter conteúdo, por instigar o pensamento, por exigir de quem a escuta certos conhecimentos. As mesmas qualidades se encontra com abundância também na música popular e em outros estilos. E, em sua maioria, são agradáveis.
Não é por vir dos meios populares que se justifique a péssima qualidade das letras das canções de certas bandas atuais. Pobreza nunca significou burrice. Embora a burrice humana seja sempre uma pobreza, venha de onde vier. Em se tratando de música, não há tanta importância a procedência social. Há muito riquinho supliciando, matando e sepultando a música (Vanessa Camargo e cia.) bem como muitos ditos favelados (Os Racionais) produzindo excelentes canções e de quebra, promovendo justiça social.
Não sou da opinião de que toda música precisa ter, necessariamente, uma boa letra (o problema é definir boa). Mas não ter nenhum conteúdo também já é demais. Tudo bem que, às três da manhã, numa balada ninguém vai filosofar sobre o que diz a música. Todavia, ouvir rebolation em plena luz do dia, em sã consciência, já acho sandice.
Não almejo uma sociedade intelectualizada. Ser intelectual nunca significou progresso, nem mais consciência. Almejaria vê apenas uma sociedade – pessoas – que fossem capazes de ir além do corriqueiro, do cotidiano. Talvez nem seja necessário chegar a tanto. Que olhassem para si com mais amor, e, por isso, se exigissem mais, de si, do mundo.
Gostaria de ser um estudioso da música para compreender esses fenômenos. Marcel Proust, em Os prazeres e os dias, recomendava detestar a música ruim, mas não a desprezar de todo. Talvez seja porque ela muito diz do vazio de quem a fez e a escuta.
Nunca imaginei que amor e capim dariam uma boa combinação. Música ainda mais. Então, desconfio que os seres que mais amam andam de quatro, berram e ruminam. E aqueles que fazem canções, poemas e serenatas esses, sim, mais dignos de capim.