TARAUACÁ: Plano de Vida Yawanawa

Somos Yawanawa – Atualmente somos aproximadamente 1.250 pessoas, sendo a maioria de nossa população formada por jovens e crianças. Fomos muito numerosos no passado. No entanto, muitos de nossos velhos morreram com o impacto negativo trazido pela colonização. Vivemos em um território de aproximadamente 200 mil hectares de terra e mantemos 95% de nossa biodiversidade intacta.
O contato com a sociedade ocidental, por volta do século XIX, na época da liderança de nosso avô Antonio Luís Pekuti, foi uma época marcada pelo genocídio cometido contra nosso povo. Por décadas, trabalhamos como verdadeiros escravos para os patrões seringalistas, que se diziam donos de nossas terras. Não éramos remunerados justamente por nosso trabalho e ainda tínhamos que conviver com todo tipo de atrocidade em nossa própria terra.
O segundo contato aconteceu com os missionários norte-americanos da Missão Novas Tribos do Brasil, que vieram “evangelizar” a comunidade. Nesse período, muitos de nossos rituais, danças, expressões artísticas, manifestações culturais e espirituais foram deixadas para trás, dando vaga aos costumes ocidentais trazidos pelos patrões seringalistas e missionários.
Apesar de estarmos distantes de áreas urbanas, nosso povo sempre esteve envolvido com organizações governamentais, não governamentais e empresas privadas, com as quais buscamos parcerias de trabalho para melhorar a qualidade de vida na floresta e continuar desfrutando de nossas festas tradicionais, rituais, costumes e língua.
Nesses últimos anos, temos trabalhado com diferentes parcerias, com organizações locais, nacionais e internacionais, que possibilitaram que nosso povo pudesse se reorganizar e criar condições e ambiente para fortalecer a nossa cultura e espiritualidade.
Politicamente, dentro da Terra Indígena do Rio Gregório, existe duas organizações que representam o povo Yawanawa — a Cooperativa Yawanawa (COOPYAWA) representa a aldeia Nova Esperança, estando as demais aldeias representadas pela Associação Sociocultural Yawanawa (ASCY).

O Plano de Vida Yawanawa

O Plano de Vida Yawanawa surgiu através de parceria da Associação Sociocultural Yawanawa (ASCY) e diferentes parceiros como a AVEDA Corporation Inc., que mantem uma parceria de trabalho com o povo Yawanawa há 25 anos. Com apoio da AVEDA, temos conseguido grandes avanços no tocante ao fortalecimento da língua, das expressões artística, manifestação cultural e espiritual Yawanawa e geração de renda, baseados em atividades que desempenhamos desde os tempos imemoriais, que não causam dano ao meio ambiente e nossa cultura ancestral.
A Forest Trends, organização ambientalista internacional com base nos Estados Unidos, tem apoiado a ASCY, no desenvolvimento de atividades agroflorestais, fortalecimento do artesanato das mulheres Yawanawa, resgate da cultura com publicações como o livro de Contos Infantis Yawanawa e também apoiado o desenvolvimento do Plano de Vida Yawanawa com oficinas de reflexão e planejamento. O Plano de Vida Yawanawa agora também conta com o apoio da Native Energy e Fundo Socioambiental CASA.
Participam do Plano de Vida, as aldeias situados ao longo do Rio Gregório: Matrixã, Amparo, Yawarani, Sete Estrelas, Tiburcio, Escondido e Mutum.
A ideia do projeto de construção do Plano de Vida era explorar as potencialidades existentes na Terra Indígena do Rio Gregório, que pudessem fortalecer as atividades que já vem sendo desenvolvidas pelo nosso povo.
O caminho encontrado para apoiar os projetos e atividades desenvolvidas nas aldeias, sem interferir na vida cotidiana das pessoas, apoiar e aperfeiçoar algo já existente, o manejo integrado da floresta, que os Yawanawa fazem naturalmente desde os tempos imemoriais, desenvolvendo atividades sustentáveis que têm preservado seu território e seus conhecimentos tradicionais.
Após um tempo para refletir melhor sobre o projeto do Plano de Vida, com discussões internas com as lideranças e pensadores do povo Yawanawa e parceiros, a ASCY iniciou as primeiras oficinas sobre Pagamentos por Serviços Ambientais, em 2011. Esta oficina reuniu as lideranças das seis comunidades: Mutum, Escondido, Tiburcio, Sete Estrelas, Yawarani e Matrixã. No decorrer dos anos foram realizadas várias oficinas de consulta prévia, livre e informada, planejamento de atividades, entre outras. No decorrer do tempo, mais aldeias vieram fazer parte do Plano de Vida Yawanawa.
Em agosto de 2015, criamos uma nova estrutura de organização interna – o Conselho de Lideranças Yawanawa, que é composto por duas pessoas de cada aldeia, somando ao total de catorze pessoas no conselho.
No Conselho temos paridade de membros homens e mulheres. Achamos importante a participação da mulher Yawanawa nas tomadas de decisões que dizem respeito aos projetos de futuros de nosso povo.
Atualmente estamos trabalhando para criação do Fundo Yawanawa. O Fundo servirá como uma base para arrecadar recursos para implementar as atividades do Plano de Vida Yawanawa, seguindo um modelo de fundo comunitário que tem se expandido em países na África e em outros países da América Latina.
O Plano de Vida Yawanawa não é um projeto de carbono e nem REDD. É um projeto que irá apoiar os Yawanawa a implementarem suas atividades para fortalecer sua língua, expressões artísticas, manifestações cultural e espiritual, proteção do território, além da criação de novas atividades visando uma economia equitativa, que valorize nossos conhecimentos e práticas tradicionais sem destruir o meio ambiente.
Mantendo a floresta em pé com todos os seus serviços ambientais como biodiversidade, geração de água e ar limpo, conservando os solos e estoques de carbono, o conhecimento tradicional, contribuindo não só para o bem estar do povo Yawanawa, mas também para o mundo todo.
Infelizmente “santo de casa não faz milagre”, por isso não temos o Governo do Estado do Acre como parceiro da implementação do Plano de Vida Yawanawa. O governo perdeu a oportunidade de fazer parte de um projeto piloto que poderia servir de exemplo para outras comunidades que estão trilhando no mesmo caminho que os Yawanawa. Uma oportunidade de colaborar com a implementação do SISA.
É que em 2015, convidado a ser parte do Plano de Vida Yawanawa, repassando aos Yawanawa os créditos de carbono para que pudessem receber em troca apoio necessário para implementar o Plano de Vida, o governo se recusou em pactuar uma parceria onde recursos pudessem ser direcionados para o Plano de Vida Yawanawa, usando o argumento do “princípio da universalidade.” Com essa recusa todo um processo que já se havia construído por cinco anos foi inviabilizado.
No entanto, o sonho da autonomia defendida pelas lideranças indígenas na década de 80 não morreu e seguimos em frente sem cair, sem temer e sem recuar. Seguimos trabalhando com nossos parceiros AVEDA, Forest Trends, CASA, Native Energies e outros, na implementação do Plano de Vida Yawanawa como um mecanismo inovador que, em tempo, todos virão a conhecer sua implementação. Como diz a canção, “quem sabe faz a hora, não espera acontecer.”
Acreditamos veemente que os Planos de Vida e os Planos de Gestão Territorial e Ambiental das Terras Indígenas são instrumentos importantes para que o povo indígena possa gerir e proteger seus territórios de forma planejada, usufruído dos mesmos sem destruir seu habitat natural como fizeram nossos ancestrais desde os tempos imemoriais.
Por Tashka Yawanawa
Fotos: Acervo CPI-AC

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